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Mãe raiz ou mãe Nutella?

  • Foto do escritor: Bruna Da Costa Pereira
    Bruna Da Costa Pereira
  • 29 de nov. de 2024
  • 3 min de leitura

Bom, seguindo a onda dos termos utilizados na internet, vemos "mãe raiz" x "mãe Nutella" bombando nas redes socias. Mas...o que significa isso ?

No meu ponto de vista, podemos definir assim:

  • Mãe raiz - aquela que faz chantagem emocional, ameaça, grita, bate, castiga, impõe, constrange e diminui a criança.

  • Mãe Nutella: conversa com calma, é paciente, amorosa, oferece apoio, carinho e colinho, beija, abraça, ouve, enxerga e entende a criança.

Aprendi com o tempo que rótulos limitam. Particularmente, não acredito que alguém seja de um único jeito o tempo todo.

Porém, eu já fui a "mãe raiz". Na maior parte do tempo, na criação da minha primogênita, fui autoritária, controladora, impaciente, perfeccionista, irritada e mandona. Constantemente, eu vivia frustrada e estressada. Imaginava que aquele caos tinha sido instaurado pela minha criança; por ela ser desobediente, desafiadora, terrível. Essa fase foi extremamente cansativa.

Demorei para perceber que ela era apenas um ser humano em desenvolvimento precisando de mim. Mas ela precisava de um eu saudável. E eu não enxergava isso. Estava trabalhando demais, sobrecarregada demais, desconectada (demais) de mim e da minha filha. Estava mais preocupada na impressão que a minha filha passaria para os outros do que em enxergar suas necessidades. Quantas vezes corrigimos as crianças com medo do que os outros vão pensar delas?

"Nossa, como ela não para quieta" poderia ser traduzido como: é uma criança, está explorando o mundo e aprendendo. "Fale mais baixo" poderia ser trocado por: crianças são intensas, falam alto, ficam empolgadas. Assim como tantos outros comportamentos normais e esperados da infância que eu julgava como erros ou falta de educação. A verdade é que criança sendo criança incomoda adultos impacientes e estressados (não leia como um julgamento).

Acontece que se eu continuasse como estava, minha filha se afastaria de mim. Não na infância, lógico. Criança não tem para onde ir, então fica, mesmo que seja tratada de forma desrespeitosa. No entanto, ela ficaria até quando? E nosso relacionamento como sobreviveria? Baseado em medo, ameaça, gritos e impaciência? Quem aceitaria viver ao lado de alguém que te desmotiva, diminui, menospreza?

Relacionamentos tóxicos não acontecem apenas em relacionamentos amorosos, eles geralmente têm início dentro de casa, na família.O lugar que deveria ser um lar amoroso e seguro, pode ser cruel. Uma mãe ou pai que deveria ser um porto seguro, pode tornar-se o pior inimigo de seu filho. Dessa maneira, entendi que deveria mudar. Era isso ou perder o grande amor da minha vida. Eu jamais me perdoaria por errar com a minha filha. Como explicar o fato de magoar quem você mais ama no mundo ?

Portanto, fui atrás da mudança. No meu caso, literalmente. Porque apesar de ter iniciado terapia em Corumbá - MS e ter conversado com a Jú sobre agressões e prometer jamais bater nela novamente, a grande reviravolta na minha vida ocorreu quando mudei para o MT.

Em Pontes e Lacerda - MT, busquei conteúdos sobre educação positiva na internet, comprei livros, li artigos, escrevi resumos, conversei com meu marido e minha irmã, refleti bastante. Além da terapia, onde cheguei desesperada e me sentindo a pior mãe do mundo.

E agora? Virei "mãe Nutella"? Talvez, sim. Se, por acaso, ter um relacionamento saudável, com diálogos e companheirismo for "Nutella", então eu sou. Não só sou como quero ser, anseio por isso, estudo, esforço-me para isso. Educar com respeito não é algo natural para mim, exigi muita dedicação. Mas, pensando na recompensa: minhas filhas respeitadas e valorizadas, vale a pena.

Infelizmente, não sou sempre paciente, às vezes, quero tudo do meu jeito. Nessas horas, erro. Passo por cima das necessidades delas. Em outros momentos, volto atrás, reconheço que errei e peço desculpas. A Júlia pede também quando erra. Relacionamento é entrega, é trabalhoso, desafiador. Algo tão valioso deve mesmo custar muito.

Diante de tantos memes e piadinhas na internet, além de menosprezo pela dor da criança que apanha, a sociedade segue violentando a infância. Ao mesmo tempo em que tenta propagar um empoderamento na vida adulta. A conta não fecha. Uma "mãe raiz" ensina para os filhos que quem ama, machuca e magoa. Ensina que seus sentimentos não importam. Qual mãe quer ensinar isso ao filho ? Onde foi que aprendemos que tratar mal as crianças as tornarão melhores?


Reflita aí se quer ser "raiz" ou "Nutella". Um lembrete: a raiz segura, prende. A Nutella alimenta, é doce e amada por todos, ou quase todos.





 
 
 

2 Comments


Carolina Barrios
Carolina Barrios
Dec 01, 2024

Eu tenho me esforçado para ser uma mãe Nutella também. Infelizmente, aos olhos da maioria, só somos boas mães se nossa criança sente medo de nós com apenas um olhar, sendo obediente. Educar é muito trabalhoso, mas sei que vale a pena.

E acho muito válido estarmos rodeadas de pessoas que pensam da mesma forma, porque nós acrescenta e não nos instiga a cair na mesma maneira raiz de criar os filhos.

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Bruna Da Costa Pereira
Bruna Da Costa Pereira
Dec 02, 2024
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Fico muito feliz por você e sua criança, Carolina. Que sejamos a mudança em nossa sociedade, a começar por nossa casa.


Um beijo. Obrigada por compartilhar sua experiência.

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